Doenças Tropicais

“Artemisinina”

O Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Unicamp concluiu a pesquisa para a produção de um dos remédios mais eficazes do mundo para o tratamento de formas brandas da malária, feito a partir da planta Artemísia annua. A artemísia é uma planta de até 1 metro de altura, talos eretos, ramificados, flores amarelentas, florescendo no verão. Alivia anemias, cólicas abdominais, debilidades estomacais, diarreia, inflamação dos intestinos, nevralgia, icterícia, verminose. Possui propriedades diuréticas, sedativas, anti-inflamatórias, antiespasmódicas e vermífugas. A planta, de origem chinesa, é utilizada há pelo menos 15 séculos no combate à doença causada pela picada do mosquito Anopheles. Atualmente, o medicamento utilizado contra a doença no Brasil vem da China e é feito com a mesma planta.

O produto desenvolvido pela Unicamp deve ser usado para as formas mais simples da doença. Para casos graves, são administrados derivados de penicilina. O prof. da Unicamp Adilson Sartoratto desenvolveu um processo de obtenção de artemisinina a partir da artemisia annua com depósito de patente em 1998, junto ao INPI.


A Ativos Farmacêutica, de Campinas (SP) patenteou uma pesquisa da planta artemísia (Artemisia annua) para avaliar a ação contra casos graves de malária, resistentes à terapia convencional. O estudo, que teve resultados positivos, foi conduzido pela divisão de farmacologia e toxicologia da Universidade de Campinas (Unicamp). “Substâncias existentes na planta combatem a malária”, garante o farmacologista João Ernesto de Carvalho, um dos responsáveis pela pesquisa. “Estamos esperando a abertura de uma licitação, pois vamos tentar vender a droga para o governo, já que a malária é um problema de saúde pública”, diz Alexandre Frederico, diretor médico da Ativos.

Uma estratégia para a produção de compostos biologicamente ativos é a seleção de clones altamente produtores e sua propagação in vitro. A micropropagação oferece muitas vantagens para a prática agrícola, como a maior rapidez na obtenção de um grande número de mudas e a erradicação das pragas e doenças da cultura, principais responsáveis pela baixa produtividade da planta. A clonagem in vitro é particularmente útil para a conservação de espécies ameaçadas e a propagação de espécies recalcitrantes ou de ciclo de vida longo. Um exemplo de planta medicinal cuja micropropagação em escala comercial resultaria em enorme benefício social é Artemisia annua, uma planta de origem chinesa, que produz o sesquiterpenóide artemisinina. Esta é uma das mais potentes drogas antimalariais conhecidas e recomendada pela Organização Mundial da Saúde para o tratamento dos casos de malária cerebral, cujo agente, o Plasmodium falciparum, se tornou resistente às drogas derivadas da quinina. A artemisinina é normalmente encontrada nas folhas e inflorescências da planta em quantidades muito baixas (aproximadamente 0,5% do peso seco), mas que podem ser aumentadas quando plantas selecionadas dentro de uma população são microclonadas in vitro. A necessidade de artemisinina é muito grande devido à vasta distribuição geográfica da malária e à gravidade dos casos, os quais aumentaram assustadoramente nos últimos anos. Porém, como a fonte principal desta droga ainda é a planta íntegra, a mesma não se encontra facilmente disponível no mercado, além de ser bastante cara.

A descoberta de um remédio para a malária ainda é um dos maiores desafios da ciência. A aluna Fernanda Crivelari Figueiredo, do Laboratório de Química Analítica do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, já está engajada nesta luta. Tanto que foi contemplada com o primeiro lugar no IX Congresso Interno de Iniciação Científica, com o trabalho “Determinação de Artemisinina, empregado como medicamento para o tratamento de malária, em Artemísia annua L., utilizando espectroscopia de infravermelho próximo. A artemisinina é o princípio ativo da artemísia, planta descoberta na China em 1987 e que já vem sendo empregada no tratamento da febre causada pela malária. O estudo desenvolvido por Fernanda, sob orientação do professor Jarbas José Rodrigues Rohwedder, teve como foco o controle do grau de concentração do princípio ativo por meio de uma nova tecnologia, a espectroscopia de infravermelho próximo normalmente o controle é feito por cromatografia líquida de alta eficiência, chamada CLAE.

Fernanda explica que o controle da concentração do princípio ativo na planta precisa ser sistemático para se determinar quando é obtida a máxima concentração, de aproximadamente 1,2%. Passada esta etapa, a concentração começa a diminuir, dando início à floração da artemísia. A planta é cultivada na própria Unicamp, pelo CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas), que possui um viveiro com vários estágios de crescimento. Além disso, o CPQBA vem realizando a extração do princípio ativo. Esta dedicação resulta das estatísticas. A estudante lembra que todos os anos surgem pelo menos 230 milhões de casos no mundo, principalmente nos continentes pobres – África, Ásia e América do Sul. No Brasil são 500 mil ocorrências anuais. O número de mortes em nível mundial é de 2 milhões por ano, índice superior ao da Aids.

Os remédios contra a malária encontrados até agora não passam de paliativos. De acordo com Fernanda, o uso de drogas ou da quimioprofilaxia não é 100% eficaz para prevenção da doença. Por isso, ela considera fundamental a pesquisa e desenvolvimento de novos antimaláricos. Na conclusão de seu trabalho, vencedor do Congresso de Iniciação Científica, a estudante constatou que, empregando-se os métodos quimiométricos, ocorreu um erro médio de 5% em relação aos valores encontrados através da cromatografia. De acordo com ela, quando comparado ao CLAE , este resultado preliminar demonstra que a espectroscopia traz uma estimativa bastante razoável do teor de artemisinina medida diretamente na planta. Mas o trabalho ainda não acabou. Os próximos passos da pesquisa são a construção de novos modelos quiométricos a partir dos espectros obtidos e dos dados cromatográficos do CPQBA.

O tratamento da malária tem como objetivo principal eliminar os plasmódios do sangue (ciclo eritrócito), que são os que produzem o ataque clínico de todas as malárias, assim como as complicações orgânicas da malária falciparum. Nas infecções por vivax e malariae, é necessário eliminar os plasmódios que se encontram no fígado para evitar as recaídas da doença após a cura clínica. O tratamento de casos graves e complicados de malária por P. falciparum: são casos de emergência médica que exigem pronto emprego de medicação antimalária de ação rápida e eficaz, se possível em estabelecimento de terceiro nível de assistência. Atualmente, em primeiro plano, estão sendo utilizados os derivados de Artemisinina, que se mostram superiores às quinolinas antimaláricas, no tratamento tanto da malária sem complicações, como a malária grave e complicada. Sua rapidez de ação, praticamente desprovida de efeitos colaterais, nova estrutura molecular e modo de ação, a colocam entre as mais importantes drogas antimaláricas da atualidade.

As pesquisadoras Vera Rehder e Mary Ann Foglio do CPQBA desenvolveram um pacote tecnológico pronto, que inclui pesquisas de adaptação climática, produção e atividades farmacológicas da planta, além da negociação do repasse do produto para a indústria. A Fiocruz é uma das mais interessadas, pois a instituição importa a substância para a produção do fármaco contra malária. A etapa mais difícil da pesquisa foi conseguir o cultivo da planta (adaptadas às condições de países de clima temperado como a China e sudeste europeu), extraindo dela teores do princípio ativo artemisinina, semelhantes aos obtidos dos chineses. “Chegamos a uma árvore de dois metros de altura com bastante teor da substância” diz Mary Ann. Ela explica que a árvore possibilitou a extração dos derivados arteméter e artesunato de sódio, que representam duas alternativas seguras e eficazes no tratamento da doença e que, por serem solúveis em óleos e água, permitem a aplicação na forma endovenosa e intramuscular. O medicamento tradicional é aplicado na forma de supositório.

 

Fonte:

http://www.saude.pr.gov.br/Agravos/Malaria/aspectos_clinicos.htm

http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/nov2001/unihoje_ju168_tema07.html

http://www.cpqba.unicamp.br/DivisoesPessoal/Pessoal_Pesq/sartoratto.htm

http://www.biotecnologia.com.br/bio/4hp_4.htm

acesso em abril de 2002

http://200.177.98.79/jcemail/Detalhe.jsp?id=3631&JCemail=2081&JCdata=2002-07-23

http://www.geocities.com/Paris/Palais/3792/fitoterapia_por_plantas.htm

http://www.actahort.org/books/502/502_62.htm

http://www.terra.com.br/istoe/1653/medicina/1653_ao_natural3.htm

acesso em julho de 2002

Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-2000, MDIC, Brasília, 2002, páginas 329

Jornal da Unicamp, Campinas, 30 de julho a 3 de agosto de 2002, n.183