Construção Civil

“Biokreto”

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está testando em Paulínia um novo material de construção que pode baratear o custo das obras em até 30%. O novo material, batizado de Biokreto, utiliza materiais de construção fabricados a partir de misturas de partículas vegetais e cimento. Em Paulínia, o material está sendo testado na calçada e no muro de algumas residências do Jardim Leonor. O trabalho de pesquisa é do engenheiro agrônomo Antônio Ludovico Beraldo, do Departamento de Construções Rurais da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp que é morador de Paulínia. O Biokreto é uma mistura de cimento com bambu moído e outras fibras vegetais que pode ser empregado na fabricação de blocos de concreto, calçadas, muros e outros tipos de alvenaria. O material pode ser empregado em pavimentos, bancos, jardineiras, telhas onduladas, coletor solar e placa hexagonal. O biokreto, patenteado em 1995 recebeu uma menção honrosa do Governo do Estado de São Paulo.


Segundo o pesquisador, o bambu e a casca de arroz podem entrar como componentes destes materiais, barateando custos. “Estes resíduos geralmente seriam incinerados ou descartados”, explica o pesquisador. Beraldo informa que o material vem sendo testado desde 1994. O objetivo é encontrar uma destinação para resíduos de serrarias e de beneficiamento de arroz. O Biokreto também já foi testado na Unicamp, em artefatos de cimento como jardineiras, abrigos para animais, canaletas para condução de água e outros, mas os testes em Paulínia são os primeiros fora da universidade. O engenheiro informa que a economia de material é de aproximadamente 30%. A nova técnica também está sendo testada na cidade de Boa Esperança do Sul. O material testado na Unicamp não é recomendado para ser utilizado na estrutura de residências.

A utilização de fibras vegetais, de forma isolada ou em mistura com outros materiais, data de muito tempo. Para reduzir a presença de fissuras em tijolos queimados ao sol e de torná-los mais leves, diversos povos recorriam às fibras vegetais. A madeira também é uma das matérias primas mais abundantes na natureza. No entanto, uma grande quantidade de espécies florestais não são valorizadas suficientemente, do mesmo modo que os resíduos provenientes das serrarias, das indústrias moveleiras e de transformação não encontram utilização adequada, destinando-se normalmente à geração de energia, ao recobrimento de pisos de aviários e para fins hortícolas. Parte dos resíduos é simplesmente queimada ou colocada em locais públicos, agravando de forma acentuada a questão ambiental. Segundo estudos do engenheiro florestal, o Biokreto apresenta várias vantagens em relação ao concreto comum, como disponibilidade de matérias primas, como bagaço de cana, bambu, madeiras, resíduos agrícolas, entre outros; leveza, com redução do peso em relação ao concreto comum; resistência aos agentes biológicos; facilidade de ser moldado ou cortado e resistência ao choque.

O projeto do Biokreto foi desenvolvido dentro da linha de pesquisa “Construções Rurais e Ambiência”, que inclui, entre seus objetivos, estudos relacionados à resistência e ao comportamento estrutural de materiais convencionais e alternativos para construção de instalações rurais e obras de infraestrutura e de solo. De acordo com Beraldo, no Biokreto, a pedra britada (matéria prima para fazer o agregado que compõe o cimento) e, eventualmente em alguns casos, a areia, são substituídas por um material de origem vegetal, isto é, resíduos como o bambu, a casca de arroz, bagaço de cana, o pó de serra e a fibra de coco, entre outros resíduos agrícolas. Conforme o resíduo aproveitado, obtém-se um produto mais adequado para determinadas aplicações.

De acordo com Beraldo, no caso do bambu, que é mais fibroso, o produto advindo de seu aproveitamento é mais adequado para a fabricação de telhas. Já a casca de arroz é mais adequada para a fabricação de blocos vazados, canais para irrigação, pisos e calçadas. O pesquisador alerta que esses resíduos têm alguns componentes químicos que precisam ser neutralizados, para que possam ser utilizados. “Alguns materiais dispensam tratamento. Mas o bambu, por exemplo, tem açúcar, e então recomendamos que a pessoa que vai utilizá-lo, ferva-o antes ou deixe-o numa solução com cal durante 24 horas, para retirar açúcares. No caso da casca de arroz, o principal problema é a gordura”, explica Beraldo, referindo-se às alternativas para o meio rural. De um modo geral, as partículas de diferentes vegetais não podem ser misturadas diretamente com o cimento, pois a ocorrência de um fenômeno denominado “incompatibilidade química madeira – cimento” pode impedir a obtenção do Biokreto de boa qualidade. No momento de desmoldagem o material pode até desintegrar totalmente, devido à presença de substâncias nocivas ao cimento (principalmente açúcares). Recomenda-se, inicialmente, fabricar o Biokreto com partículas vegetais ao natural e após a lavagem, para constatar os possíveis efeitos da lavagem.

Apesar do Biokreto ser constituído essencialmente pela mistura da pasta de cimento e pela substituição do agregado graúdo (brita ou pedregulho) por partículas vegetais, em certos casos, pode-se, inclusive, eliminar igualmente o agregado miúdo (areia). Evidentemente, os materiais assim obtidos apresentam comportamento físico-mecânico muito diferenciado, sendo, portanto, indicados para diferentes aplicações. O Biokreto pode ser utilizado na fabricação de tijolos maciços prensados à mão, e devidamente curados. Testes realizados em laboratório mostraram que o Biokreto pode apresentar o dobro da resistência do tijolo cerâmico maciço, e, no mínimo, quatro vezes a de um tijolo cerâmico vazado (“baiano”).

 

Fonte: http://www.uol.com.br/tododia/ano2000/novembro/dia05/cidades.htm

http://www.comciencia.br/noticias/31mai02/biokreto.htm

Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 200

Acesso em março de 2002

http://www.agr.unicamp.br/bambubrasilis/contato.html

http://www.agr.unicamp.br/biokreto/index.html

Acesso em agosto de 2002

Jornal valor Econômico de 05.06.2002 página F-6 (especial meio ambiente)