Aeronáutica

Convertiplano

Em 1952 a COCTA vai buscar, na Europa, o realizador do 1º helicóptero utilizável, Prof. Dr. Eng. Heinrich Focke, e alguns dos seus principais assessores técnicos, para permitir a criação de um projeto que viesse revolucionar e incrementar (queimar etapas) o setor aeronáutico brasileiro. Esse grupo de técnicos, altamente qualificado, que vinha projetando aeronaves de asas rotativas, na Alemanha, desde 1939, tendo produzido, antes e durante a II Grande Guerra, inúmeros helicópteros de ótimo desempenho, sentiu-se atraído para o nosso país na perspectiva de aqui desenvolver o Convertiplano, concepção de há muito nos planos do Prof. Focke.

Aldo Weber Vieira da Rosa, presidente do CNPq em 1956 relata: “As atividades do CTA incluíam também programas bem mais ambiciosos, tais como o desenvolvimento de helicópteros e convertiplanos”. Se perguntarmos a qualquer americano quem inventou o helicóptero, ele vai dizer que foi Igor Sikorsky, mas a verdade é que, quando Sikorsky começou a trabalhar nesse campo, helicópteros já eram produzidos. É uma situação semelhante à dos irmãos Wright. Dizem que eles inventaram o avião mas registros oficiais mostram que o primeiro avião que decolou por moto-próprio foi o de Santos Dumont. Em geral cada país chama a si a glória de ter feito certo desenvolvimento. Acontece que no caso do helicóptero, é muito claro que a companhia Foche Achgeles já produzia centenas de helicópteros em 1939.

 

Aldo Vieira comenta: Fomos um tanto ingênuos achando que poderíamos desenvolver helicópteros e o convertiplano no próprio CTA. Hoje em dia, sei que tal esquema não funciona. Em vez de o próprio governo executar um desenvolvimento, ele deve contratar essa tarefa a uma indústria privada, que tende a dar mais continuidade ao trabalho. De qualquer maneira, se o desenvolvimento tiver sucesso, ele terá de ser traduzido em produção industrial, e ninguém pode fazer isso melhor que o próprio grupo que criou o protótipo. Em 1957 o convertiplano já estava bastante avançado, mas nossas autoridades não tiveram a persistência de continuar o financiamento de um empreendimento por demais avançado para a mentalidade brasileira da época. Existe um convertiplano americano que só agora está voando. Trata-se do Osprey, cuja configuração se assemelha bastante à do convertiplano do CTA, mas cujo desenvolvimento levou décadas para alcançar a maturidade.

No CTA, criação do brigadeiro Montenegro, a pesquisa básica cabe ao ITA (criado segundo os moldes americanos, sendo o primeiro reitor do ITA, Robert Smith do MIT) enquanto a pesquisa aplicada foi atribuída ao Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD), do qual Aldo Vieira foi o primeiro diretor entre 1954 a 1961. NO IPD foram desenvolvidos o convertiplano, o helicóptero Beija Flor, o Projeto Germânio, motores pulso jatos e numerosos equipamentos eletrônicos. Segundo Aldo Vieira: Talvez a mais importante contribuição do IPD foi estender a indústria aeronáutica o princípio de promoção da tecnologia brasileira. Desta iniciativa nasceu, entre outras, a fábrica Neiva, que equipou a FAB com o Regente e o treinador Universal”. Foi no IPD que trabalharam o professor Heinrich Focke, o inventor do helicóptero e seus numerosos colaboradores alemães e húngaros. Foi também no IPD onde foram feitos os primeiros estudos de semicondutores no Brasil e onde foi desenvolvida a tecnologia para a produção de germânio e gálio a partir de minerais brasileiros.

Os rotores do Helicóptero nacional Beija – Flor e uma réplica do convert plano encontram-se no Museu da Aeronáutica em São José dos Campos – SP. O Convert plano possuía 4 helices e um motor central. As hélices bem como as asas possuíam variação de angulação. A fabricante inglesa de motores Rolls Royce foi impedida de vender o motor e o motor que fora usado era tão pesado que comprometeu severamente a capacidade de carga do avião.

 

Fonte:

http://www.cta.br/historico/projhist.htm

Acesso em março de 2002

Livro: 50 anos do CNPq contados pelos seus presidentes, de Shozo Motoyama, Ed. FAPESP, 2002, páginas 103 e 104