Agropecuária

Enxertia por Borbulhas em Cajueiro

No Ceará, como em vários outros Estados do Nordeste, a cultura do caju está entre as principais atividades agroindustriais. No final dos anos 80, um dos principais problemas enfrentados pelos produtores era o alto custo das mudas, que chegavam a representar metade do custo total de implantação dos pomares, porque pelos métodos tradicionais menos da metade das mudas formavam-se além de demorarem cerca de 210 dias para ficarem prontas. A partir dessa constatação, um grupo de pesquisadores do então Centro Nacional de Pesquisa do Caju, hoje Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical (CNPAT-Embrapa) começou a estudar alternativas para contornar o problema e assim melhorar a produtividade dos cajueiros e baixar os custos de implantação dos pomares.

 

Inicialmente estudou-se o tipo de ramo que apresentava melhor fornecimento de material vegetativo para a produção de mudas através de vários métodos de enxertia. Após aproximadamente dois anos de trabalho com pesquisas e testes em campo os pesquisadores verificaram que o método de enxertia por borbulha era o que apresentava maior rendimento e melhores condições de ser implantado na região. Nas etapas seguintes foram definidos os tipos de substratos a serem utilizados, a nutrição das plantas, o controle de pragas e as doenças e o tamanho do recipiente mais indicado para a produção das mudas. Foi feito também um trabalho visando a redução da idade do porta enxerto, para enxertia por borbulha, um fator fundamental para reduzir o tempo final de formação das mudas.

Em geral a enxertia por borbulha consiste de duas fases. A primeira é a formação de porta-enxertos com sementes oriundas de plantas selecionadas previamente e com alto índice de produtividade. Após um período de 40 a 60 dias no viveiro a céu aberto, as plantinhas estão prontas para receberem o enxerto. A outra fase consiste na enxertia utilizando borbulhas retiradas de ramos floríferos de plantas selecionadas num jardim clonal (grupo de plantas propagadas vegetativamente com a finalidade de fornecer proágulos – estacas, garfos e borbulhas – necessários para a formação de mudas). A muda enxertada fica pronta em 60 dias. “A grande vantagem da produção de mudas de cajueiro pelo método de borbulha é a redução de custos, pois permite melhor aproveitamento do material vegetativo, menor tempo de formação da muda e menores despesas com transporte”, explica Dalva Maria Bueno, pesquisadora do CNPAT.

No método tradicional da enxertia, o mais utilizado anteriormente na região, utilizava-se apenas um garfo por porta-enxerto, enquanto pelo novo método da borbulha, de um mesmo ramo podem ser retirados até cinco borbulhas. Além do índice de formação de mudas que chega a 95% com o novo método, o tempo de formação das mudas foi reduzido para no máximo 120 dias. A enxertia por borbulha dispensa o sombreamento das mudas e permite o escalonamento da produção. As mudas podem ser formadas preferencialmente de agosto a fevereiro, além do reaproveitamento do porta enxerto no caso de insucesso da enxertia.

A partir de 1991 os pesquisadores do CNPAT iniciaram o trabalho de transferência da nova técnica para os produtores de caju do Ceará. Algumas empresas de grande porte adotaram a tecnologia em larga escala visando aumentar a produção de mudas, seja para os próprios pomares quanto para comercialização. A tecnologia foi amplamente difundida através de seminários, cursos, dias de campo e visitas técnicas às estações experimentais da Embrapa-Agroindústria Tropical. Os principais interessados foram viveiristas , produtores e cooperativas agropecuárias. Atualmente o processo de enxertia por borbulha no cajueiro anão precoce é de domínio público. Nos primeiros quatro anos de projeto, a fase de pesquisa, experimentação e primeiras transferências de tecnologia, o CNPAT investiu aproximadamente 65 mil reais em custos operacionais, envolvendo a aquisição de materiais e insumos e as despesas com locomoção para maior divulgação do método.

 

Fonte: Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 78

acesso em julho de 2003