Química

Janela Inteligente

Um dispositivo que muda de cor ao receber impulsos elétricos, desenvolvido pelo Laboratório de Polímeros Condutores e Reciclagem, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, pode se converter numa das comodidades da casa do futuro. Equipando janelas, ele regularia a intensidade de luz nos ambientes além de influenciar na temperatura do local em que estivesse instalado. Batizada de “janela inteligente”, o dispositivo é constituído por uma sobreposição de diferentes polímeros capazes de responder a estímulos de forma reprodutível e específica. Duas folhas de plástico transparente e flexível são recheadas com camadas de óxido de estanho, dois tipos de polímeros – poli (o-metóxianilina) e poli (tiofeno) – e borracha empregnada com perclorato de lítio. Apesar da multiplicidade de componentes o dispositivo tem espessura inferior a meio milímetro. 

A superfície de duas folhas de plástico transparente e flexível (semelhante às transparências utilizadas em retro-projetores) é recoberta com uma fina camada de óxido de estanho, um produto químico capaz de conduzir energia elétrica, e dois diferentes tipos de polímeros: poli (o-metóxianilina) e poli (tiofeno), este produzido pela empresa alemã Bayer com o nome comercial de Baytron-P. O recheio se completa com a colocação, entre ambas as folhas, de uma camada de borracha impregnada com outro produto químico, o perclorato de lítio. O material, cedido pela companhia japonesa Daiso, parceira da Unicamp na pesquisa, é um eletrólito elastomérico que exerce, na janela, papel idêntico ao da solução ácida (eletrólito líquido) da bateria elétrica de um veí-culo, ou seja, o de transportar íons e permitir o equilíbrio de cargas elétricas no dispositivo.

Ao receberem estímulos elétricos, esses substratos químicos reagem mudando de tonalidade, da transparência total ao opaco, conforme a intensidade da corrente. Um dimmer interligado à janela, é que regula a luminosidade que passa para o ambiente. Ele pode ser acionado manualmente ou de forma automática, a partir de informações enviadas por sensores externos de luminosidade e temperatura monitorados por computador. A transmitância da luz pela janela inteligente pode variar de 90% a apenas 10%. Nas películas instaladas em veículos para reduzir a luminosidade interna, esse percentual é limitado a 75%. Interferindo na luminosidade interna, Marco-Aurélio De Paoli, coordenador de projetos do Laboratório de Polímeros Condutores e Reciclagem, acredita que o produto ajudará na economia de energia elétrica destinada à iluminação. “Também os ventiladores e os aparelhos de ar-condicionado serão menos utilizados uma vez que o dispositivo, regulando a incidência de luz, interfere na temperatura do ambiente”, acrescenta. Embora utilize a energia elétrica para funcionar, o novo material poderá na verdade economizar gastos nesse tipo de consumo, pois ao reduzir a luz interna dos ambientes, também reduz o calor interno, proporcionando uso otimizado de ventiladores e ar-condicionado. 

Diferente de protótipos em estudo nos EUA e na Europa, desenvolvidos em lâminas de vidro que substituem as janelas convencionais, o dispositivo da Unicamp por ser flexível e delgado, pode ser colado sobre as vidraças, dispensando a substituição da janela. Financiado pela Fapesp e pelo CNPq o experimento está em fase laboratorial, os pesquisadores conseguiram desenvolver protótipos de 25 cm² (5×5 cm). “Com a continuidade da pesquisa queremos chegar a uma peça de 20×20 cm”, informa De Paoli. Segundo ele, a passagem das análises da escala de bancada para a de produção é uma tarefa mais braçal que intelectual, porque não há mudanças de tecnologia. “É mais transpiração que inspiração”, brinca. Atingido esse ponto, a pesquisa continuará em função do interesse de empresas em comercializar o produto. 

Fonte: 
http://www.vivaciencia.com.br/03/03_005.asp
 
http://www.prometeu.com.br/noticia.asp?cod=312
 
http://www.iqm.unicamp.br/profs/mdepaoli.html
 
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/nov2001/unihoje_ju168pag17.html

acesso em abril de 2002
Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileriro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 350
 
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