Agropecuária

Lepto Bov-6

Em meados de 1996 a Vallée S/A que atua no mercado de produtos veterinários há 35 anos constatou que a incidência de animais soropositivos para leptospirose no rebanho bovino brasileiro vinha crescendo nos últimos anos. A leptospirose, uma das principais doenças reprodutivas dos bovinos, ocorre com uma frequência muito maior do que se imagina. Os números indicam que em vários rebanhos do país os índices podem chegar a 70% de animais atingidos. Além disso trata-se de uma zoonose, doença transmitida ao homem pelos animais. Entre as principais consequências para o rebanho está o aborto a partir do quinto mês de gestação, nascimento de bezerros debilitados ou mortos, retenção da placenta, baixa fertilidade ou mesmo infertilidade e queda da produção leiteira, o que ocasiona perdas expressivas para a pecuária. Para evitar a doença só existem duas formas: o tratamento curativo com o uso de medicamentos, como alguns antibióticos, ou a prevenção através de vacinas. No caso da vacinação, a prática é ainda pouco difundida, apesar da intensificação dos programas de manejo e maior oferta de serviços de diagnóstico.

 

Diante da constatação de que a demanda por vacinas contra leptospirose bovina tenderia a crescer, a Vallée decidiu entrar nesse segmento, buscando inicialmente identificar um parceiro com domínio da tecnologia de cultivo das cepas de leptospiras e capaz de apoiar o desenvolvimento de uma vacina com o padrão de qualidade requerido, estabelecendo assim parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, que há mais de três décadas atua no diagnóstico de agentes infecciosos e desenvolvimento de vacinas. A parceria entre a Vallée e a equipe de pesquisadores da USP incluiu todas as etapas da pesquisa e também a atualização científica e tecnológica de profissionais da empresa, veterinários e criadores. Utilizando-se as mais atualizadas técnicas de fermentação e downstream (conjunto de técnicas utilizadas em processos de purificação e concentração de materiais) o processo de cultivo de sorotipos selecionados para a formulação da vacina foi otimizado para permitir o cultivo em grande escala.

Em paralelo, prospectavam-se tecnologias que permitissem a agregação de um adjuvante imunológico compatível à formulação, para a obtenção de uma resposta protetora mais eficaz e duradoura dos animais vacinados. “Vencidos os desafios iniciais, partiu-se para o desenvolvimento da formulação, que além dos aspectos de estabilidade, esterilidade, concentração de bactérias por dose, deveria atender os padrões de qualidade estabelecidos mundialmente para a eficiência do produto”, diz Sílvio Arruda Vasconcellos, que liderou as pesquisas da USP. Após a produção laboratorial do lote piloto da vacina, este foi submetido a uma bateria de testes para a avaliação dos parâmetros de qualidade em consonância aos padrões farmacopéicos. Testes para constatação da eficiência da vacina foram realizados também em bovinos através da avaliação de aglutininas pós-vacinais nos animais. Dessa forma, consumou-se a internalização pela Vallée das metodologias de controle de qualidade a serem utilizadas rotineiramente nas fabricações futuras.

“A parceria Vallée/Universidade culminou com a incorporação de metodologias recentes de biotecnologia na produção de uma vacina contra a leptospirose bovina que reuniu em sua formulação os seis sorotipos de maior prevalência no rebanho nacional”, afirma Antônio Carlos Surian Mangerona, coordenador do projeto na Vallée. O produto final, a LEPTO BOV-6 é uma vacina polivalente inativada, contra a leptospirose bovina, que reúne em sua formulação os seis principais sorotipos de leptospira: hardjo, pomona, wolffi, canícola, gripotyfosa, icterohaemorrhagie. Numa segunda etapa o trabalho envolveu a transferência de tecnologia e o treinamento dos técnicos da empresa. Para isso um dos pesquisadores da USP permaneceu durante 30 dias junto à equipe de produção da Vallée, discutindo as metodologias já dominadas pela empresa, necessidades de adaptações e possíveis inovações a ser incorporado ao processo produtivo, o que culminou na elaboração de um protocolo a ser seguido na produção com o objetivo de viabilizar o completo domínio dos processos e controle em larga escala.

 

Fonte: Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 98

http://www.vallee.com.br/

 

Acesso em julho de 2003