Medicina

Material para Radioterapia

Na Universidade de Campinas (Unicamp), a tese de mestrado da engenheira Karin Dias Salman, 32 anos, produziu um resultado curioso: placas de PVC com as mesmas características de absorção da pele humana. O material, patenteado por Karin, está sendo usado no hospital da Unicamp para aumentar a eficiência da radioterapia em tumores de mama, pele e qualquer outro tipo de câncer superficial. A pesquisadora batizou as placas de “bolus vinílico”. No tratamento de câncer por radioterapia, é necessário o emprego de um “bolus” que simule características de absorção e espalhamento de radiação do tecido humano. Colocado sobre a pele do paciente, o material calibra a distância certa para o bombardeio radiativo, fazendo com que o medicamento poupe tecidos saudáveis.


Há 18 meses, as placas de PVC, também conhecidas por bolus vinilico, são utilizadas com excelentes resultados pelo Centro de Assistência Integral à Saúde da mulher (CAISM), da Unicamp, principalmente no tratamento do câncer de mama e de pele. A formulação do bolus vinilico é o resultado prático da dissertação de mestrado “Desenvolvimento de poli (cloreto de vinila) – PVC para utilização na radioterapia de pacientes com câncer”, defendida por Karin em agosto de 95, na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp.

Karin começou o trabalho em 1991 e, antes de chegar à fórmula definitiva do bolus, realizou um amplo estudo de plastificantes para conciliar alta qualidade e baixo custo.

Antes do desenvolvimento das placas de PVC, o CAISM utilizava gaze ou cera para cobrir a área afetada pelo tumor e evitar que o pico da descarga radioativa atingisse tecidos saudáveis do paciente. Todavia, a gaze e a cera eram materiais difíceis de moldar, não tinham transparência e deformavam com facilidade. A espessura constituía outro ponto crítico, já que não era possível a manipulação. Já o bolus vinilico pode ser confeccionado com 4 milímetros a 1 centímetro de espessura, variando de acordo com a intensidade da radiação desejada.

O radioterapeuta Sérgio Esteves explica que desde 1989 o CAISM utiliza um acelerador de partículas atômicas para tratamento radioterápico. O equipamento emite raios de elétrons e fótons mais potentes que a descarga de cobalto dos aparelhos convencionais.

Embora a eficiência do bolus vinilico já tenha sido comprovada, as indústrias mostram pouco interesse em produzi-lo em escala comercial. O baixo custo e a grande durabilidade do material desestimulam os fabricantes. Desde que o bolus começou a ser utilizado no CAISM, Karin tem produzido o material em laboratório montado na própria Unicamp a um custo aproximado de R$ 40,00 a unidade. As placas à base de borracha existentes no mercado internacional – única alternativa para se obter a mesma eficácia do PVC – chegam a custar US$ 105.

A engenheira explica que, se for manuseado de forma correta, o bolus pode ser usado em 44 sessões radioterápicas sem sofrer qualquer alteração. Mesmo com essa grande durabilidade, ela afirma que não consegue suprir a demanda do CAISM, que atende a 30 pacientes por mês com tumores superficiais. O bolus vinilico já foi patenteado no INPI.

Karin Salman continua a pesquisar novas aplicações para as placas de PVC. O alvo agora são as vítimas de queimaduras. Ela explica que, nesses pacientes, é necessário cobrir o local afetado com um material que não provoque irritação durante a cicatrização da lesão.

O único material existente no mercado hoje com essa finalidade é feito à base de silicone que, apesar de eficiente, apresenta um alto custo. Para solucionar o problema, Karin pretende desenvolver placas de PVC com espessura menor do que as utilizadas no tratamento radioterápico e com alto grau de permeabilidade para possibilitar a troca de gases entre a ferida e o ambiente. Sua intenção é oferecer um material com um custo menor, porém tão eficaz quanto o silicone.

 

Fonte: http://www.radiobras.gov.br/abrn/c&t/1997/c&t_0509.htm

http://www.terra.com.br/istoe/politica/143427.htm

Acesso em dezembro de 2001

Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 302