Metalúrgia

Método Bripar de Pavimentação

Um dos inventos mais antigos do Estado do Rio Grande do Norte é também o segundo mais lucrativo de todo o país. Trata-se do método Bripar de pavimentação, criado em 1958 pelo engenheiro civil potiguar Milson Dantas, 80 anos, ex-combatente da Segunda Guerra. Hoje em dia, o método é usado no mundo inteiro. Antes do Bripar, só existiam dois tipos de pavimentação: com concreto de asfalto e de cimento. Mesmo seguindo todas as normas e especificações técnicas, o engenheiro Milson Dantas percebeu que o pavimento não suportava mais a carga dos veículos que passaram a trafegar pela cidade. “Percebi que a tecnologia de paralelepípedo estava ultrapassada”, disse o inventor.

 

Essa constatação serviu de ponto de partida para que o engenheiro desenvolvesse uma solução para o problema. Milson Dantas procurava compactar os paralelepípedos para que suportassem pelo menos 10 toneladas. “Estava concretando a placa do aeroporto Augusto Severo com brita. Então pensei em utilizar esse rejuntamento para os paralelepípedos”. Milson Dantas diz que desde criança possui espírito inventivo. Além do Bripar, o engenheiro inventou e patenteou um cata-vento horizontal, que ele prefere guardar a sete chaves. Milson Dantas diz ter sofrido para preservar os direitos autorais do Bripar e, por isso, resolveu manter guardadas as outras invenções. “Por inveja, muitas pessoas quiseram me tomar o Bripar”. Pensei até em desistir de brigar pelo método. Hoje só guardo a mágoa de não ser reconhecido na minha cidade. Se fosse americano, alemão, ou até mesmo paulista, tudo seria diferente.

O pavimento Bripar (Brita + Paralelepípedo) deve ser entendido como as lajes monolíticas tígidas aos esforços tangenciais e semi-flexíveis, provenientes da associação da brita graduada com o paralelepípedo, compactado mecanicamente. O paralelepípedo e a brita são materiais de uso comum, mas que nunca haviam sido associados para constituírem pavimento em que se usa o asfalto como elemento catalisador, isto é, fazendo parte do pavimento, assegurando a longevidade, pelas três propriedades que lhes são comuns: é aglutinante unindo as britas entre si e ao paralelepípedo, é impermeabilizante, garantindo a estabilidade da base, não permitindo a entrada de água e nem a desconcentração dos materiais e finalmente é plástico o suficiente para permitir, em pequenos movimentos à adaptação do pavimento, mantendo as principais características já observadas.

Em 1942 Milson Dantas, estudante ginasial foi contratado como office-boy do primeiro laboratório de análises físicas de material do solo instalado no Brasil em Parnamirim Rio Grande do Norte, para análise de materiais que iam compor as bases e pavimentos das pistas e da estrada, ligando Natal a Parnamirim a serem pavimentadas com macadame asfáltico. Formado pela UFPE em 1953 Milson constatou a inviabilidade dos revestimentos a paralelepípedos tradicionais face aos rejuntes fraturáveis e ao tipo de compactação batida (esforço descontínuo), sem apoio de uma base matemática de sustentação. Na busca de uma solução de uma compactação rolada sem saltos de paralelos, sem roturas e afundamentos, Milson após um dia de trabalho supervisando a concretagem de uma laje do aeroporto de Natal relata como chegou à solução: “Despertei do sono visualizando os paralelos envolvidos por brita que lhe davam ancoragem de tal modo que um compactador rolando sobre a superfície que o único movimento que permitiria aos mesmos seria vertical. O Bripar estava descoberto”

Milson teve dificuldades em implantar sua invenção, com tentativas iniciadas desde 1958. Em 1974 como chefe do Distrito Rodoviário da cidade de Natal, omitindo da própria direção do DER, Milson conseguir converter a obra de pavimentação Natl-Extermoz a ser executada em piçarra para pavimentação com tecnologia Bripar. O corpo técnico do DER ao tomar conhecimento do fato, quis paralisar a obra, alegando que se tratava de “uma miragem do louco Milson Dantas”. A verba destinada a tal obra era advinda do convênio com o Banco Mundial/DER. Em consequência do ocorrido enviaram a Natal um engenheiro inspetor do banco Mundial chamado Dr. Buchacho, o qual aprovou a mudança tecnológica de pavimentação, dando o seu aval a continuidade da obra. Estava consagrado o Bripar.

Um industrial Natalense, Francisco Seráfico, que usava tal estrada na época de veraneio, desceu do carro, percorreu uns 500 metros lineares, coçou o queixo e disse: “Milson você resolveu o problema de pavimentação dos países pobres”. Enquanto isso, um calceteiro que ouviu a conversa, complementou: doutor, concreto (como denominou a brita) e rolo duro nasceram para viver juntos, e só esse doutorzinho compreendeu isso …Enquanto isso profissionais de área ainda tergiversavam o valor do Bripar. Como Milson Dantas afirmou em Minas Gerais no IV REDORE (Reunião dos Órgãos Rodoviários): “como não me chamo Milsonovisk Dantovisk e sim Milson Dantas, pardo, sertanejo e nordestino, continuo a ser questionado…”. Para o desenvolvimento do produto Milson contou com apoio dos laboratórios do DER e da UFRN em especial do professor engenheiro José Bartolomeu. Em 1978 Milson Dantas criou a empresa Bripar Tecnologia e Assistência Técnica Ltda., hoje inativa.

O sistema permite a compactação mecânica que conseguiu impor à pedra natural, transformando o s calçamento a pedra em uma laje monolítica aos esforços tangenciais e em pavimento semi-flexível aos esforços verticais. O sistema substitui o trabalho de máquina caríssimas por trabalho braçal na execução de pavimento com o mesmo conforto, reduzindo em 50% os custos da obra. Nenhum revestimento quer asfáltico, quer a concreto do cimento Portland, que satisfaça as condições de pavimento custa menos de 1 milhão de cruzeiros incluindo drenagem superficial, ao passo que o Bripar está orçado em torno de 400 mil cruzeiros. A toeira de pavimentação Bripar não advoga o embargo ao desenvolvimento tecnológico, advoga uma tecnologia tropical em regiões altamente agredidas pelo desequilíbrio social.

A estabilidade aos esforços verticais é garantida pela uniformidade da compactação mecânica rolada, vez que o peso do compactador TANDEM se relaciona com a carga-eixo do pavimento. A associação da brita seca ao paralelepípedo permite usar compactadores de 8 a 18 toneladas e se obter superfície planas perfeitas, eliminando os recalques (residuais) diferenciais responsáveis pelo desconforto dos pavimentos em paralelepípedos tradicionais, em razão da compactação a percussão (malhos mecânicos e manuais) que era usado, portanto, não uniforme e que permitia ao mesmo a formação de uma superfície plana perfeita com características permanentes. Antes de Bripar, impraticável era a compactação mecânica correta e perfeita dos pavimentos a paralelepípedos: a associação com a areia fazia o paralelepípedo virar no mesmo sentido do deslocamento do compactador enquanto a associação ao cimento provocava a quebra do cimento pulverizando-o. O método bripar associando a brita seca graduada ao paralelepípedo para formação de um pavimento para revestir ruas ou estradas resolve tais problemas.

 

 

Fonte: http://www.tribunadonorte.com.br/natal/natal2.html

 

Acesso em janeiro de 2003 (cache do Google)

Agradeço ao INPI/FINEP pelo envio de informações em junho de 2008 para composição desta página