Agropecuária

Nutriplanta

Mais do que exalar mau cheiro, o apodrecimento de materiais orgânicos representa um grande desperdício de energia e , ao mesmo tempo, uma agressão á natureza O meio ambiente é prejudicado porque o processo contribui para o efeito estufa através da liberação do gás carbônico e do metano. E o desperdício se dá pelo fato de que justamente durante o apodrecimento estão sendo perdidos os compostos nitrogenados, os mais ricos em termos de valores nutritivos para os vegetais. Tradicionalmente na agricultura, a adubação orgânica tem sido feita a partir do apodrecimento de materiais. É o processo de mineralização que gera compostos estabilizados conhecidos como húmus. Um produto desenvolvido em Brasília, o Nutriplanta está rompendo esta tradição. Ele resulta da interrupção do processo de apodrecimento transformando a matéria orgânica em compostos fermentados ricos em açúcares, ácidos orgânicos e outras substâncias assimiláveis pelos vegetais, ainda na forma orgânica. Preserva-se assim, cerca de 90% da energia química e propriedades nutritivas originais, característica transferida às plantas. “No húmus, ao contrário, só 10% do valor é preservado”, compara Alberto Luiz Wanderley, diretor da I-Tec Biotecnologia Agrícola, empresa responsável pelo desenvolvimento do produto.

 

Trata-se de mais um caso bem sucedido de parceria entre a iniciativa privada e a Universidade de Brasília (UNB), viabilizado pelo Programa de Incubadoras de Empresas. A formulação do Nutriplanta começou na universidade , a partir de janeiro de 1997, passou definitivamente às mãos da I-Tec, fundada por Alberto, ex-aluno de engenharia agronômica. Nos dois primeiros anos do projeto, a empresa cedeu um galpão de 240 m2 equipado com moinho triturador, misturador de materiais sólidos e os tanques de crescimento das culturas microbianas para a produção experimental do biofertilizante sólido. Já os laboratórios da faculdade de Agronomia e Veterinária foram utilizados para determinação dos padrões de qualidade dos insumos produzidos e para avaliação da capacidade nutricional destes. Hoje as pesquisas já estão consolidadas e a I-Tec com a capacidade de produção de até 80 toneladas por mês, percebe um vasto mercado se abrindo para o Nutriplanta. Um dos próximos passos é mostrar aos usuários que as vantagens do produto também se aplicam ao campo financeiro. Primeiro porque a fórmula se baseia em matérias primas que normalmente são resíduos agroindustriais, muitas vezes desperdiçados ou mal utilizados, como o esterco de aves, além de diversas tortas, farelos e vinhaças.

Outra vantagem do Nutriplanta é a concentração das propriedades nutritivas que permite desempenho semelhante ao método tradicional com o uso de um décimo da quantidade de matéria orgânica. Deve-se misturar uma parte de Nutriplanta para algo entre 10 e 20 partes de terra no preparo de vasos e de 100 a 500 gramas por metro quadrado na aplicação sobre o solo. A produção de adubo orgânico baseado na mineralização exige ainda, a implantação de um método de compostagem, custo evitado pelo Nutriplanta. É uma contribuição para viabilizar a agricultura orgânica em alta escala, algo que encontra cada vez mais mercado, já que há demanda crescente por produtos livres de agrotóxicos. A matéria prima do Nutriplanta é obtida da chamada cama de frango. Trata-se do aproveitamento do esterco das aves de corte, sob o qual é instalado um lastro de matéria orgânica. No caso de Brasília, a matéria usada nessa função é a casca de arroz, por ser encontrada em abundância. Mas a composição do Nutriplanta é adaptável à região. No Nordeste por exemplo, podem ser utilizadas a casca de cacau, a mamona ou o babaçu. Depois da obtenção da pasta inicial, procede-se à adição de farelos, como arroz, melaço ou carvão vegetal, para melhorar a fermentação e contribuir no balanceamento nutricional do produto. Todo o material é então triturado, já que a redução das partículas facilita o trabalho de microrganismos fermentadores inoculados a seguir. Estas bactérias atuam na ausência de oxigênio para converter compostos grandes em menores, interrompendo o apodrecimento e conservando assim, a maior parte da energia do material.

 

Fonte:

 

Acesso em maio de 2003

Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 14