Deficientes Físicos

Print Braille

A falta da visão é a falta de um dos sentidos. Mas o que não faz nenhum sentido é a limitação da convivência em sociedade do deficiente visual. Com esse pensamento, e consciente de que sua formação poderia e deveria contribuir de alguma forma para o bem-estar das pessoas, o engenheiro de computação Guy Perelmuter criou, em seu trabalho de fim de curso, o Print Braille, com o objetivo de auxiliar os cegos em leituras cotidianas como receitas médicas, notas fiscais, provas de colégio. Estas leituras possibilitam ao deficiente visual uma ligação maior com o mundo, a partir do momento em que pode obter uma série de informações por si só, afirma Guy, que hoje é mestrando em Sistemas de Computação na PUC.

 

O alfabeto Braille foi desenvolvido pelo professor e músico francês Louis Braille no século XIX, para permitir que deficientes visuais pudessem ler. Cada letra é composta por uma série de pontos, organizados numa matriz 3 x 2 (três linhas por duas colunas) que formam um relevo no papel. Através do tato, é possível perceber qual a letra ou símbolo representado. Existem empresas que fabricam impressoras Braille capazes de produzir livros inteiros com alta qualidade de impressão. Entretanto tais impressoras são bastante caras, chegando ao custo de vários milhares de dólares. O Print Braille surge como uma alternativa simples para a produção de textos não muito extensos em Braille.

O Print Braille é um kit composto de um software – capaz de transformar um texto comum em Braille – e de um anteparo, que faz com que impressoras matriciais possam produzir o relevo próprio desta linguagem em uma folha de papel vegetal. Guy conta que, para desenvolver o protótipo, foram necessários um estudo aprofundado do alfabeto Braille e praticamente um ano de testes junto ao Instituto Benjamim Constant: Os deficientes avaliaram o espaçamento entre os pontos, altura, largura, até chegarem a um acordo quanto à impressão ideal. As provas com materiais para o anteparo, no entanto, ainda continuam, e, por esse motivo, o engenheiro enfatiza a importância de incentivos para o projeto: Já experimentei vários tipos de material, de plásticos a emborrachados, para analisar seus diferentes graus de deformação (a deformação do anteparo possibilita o relevo). Estou alcançando uma textura ótima, através de uma amostra que recebi.

Entretanto, ela é difícil de ser obtida. Daí ser fundamental o interesse das empresas e instituições na parceria com esta iniciativa, de modo a se conseguir uma produção em larga escala. Quanto ao kit Braille, a proposta é a mais simples e barata: o software faz tudo e é exigido pouquíssimo conhecimento de informática para utilizá-lo e nenhum conhecimento de Braille por parte do usuário. Além disso, o Print Braille funciona em qualquer PC, ligado a uma impressora matricial, a mais barata do mercado, e um texto pequeno pode estar pronto em poucos minutos. Guy assinala que o custo baixo é essencial, pois uma das finalidades do kit é ser acessível a deficientes e instituições desfavorecidos. Porque, pior do que não enxergar, é poder ver sem olhar para o próximo. O trabalho mereceu o XIV Prêmio Jovem Cientista de 1996.

O funcionamento do sistema envolve uma primeira etapa onde o texto é obtido em um editor de textos capaz de gerar o formato ASCII. Uma vez o texto pronto, o Print Braille gera uma representação intermediária através de um parsing. O parsing é um tipo de compilador de dados, em busca de certos padrões (tokens), como utilização de palavras em maiúsculas, dígitos, isto devido à maneira como o alfabeto Braille representa tais caracteres. Os números por exemplo, possuem a mesma representação da letra correspondente precedida por um símbolo especial. Isto quer dizer que o quatro é representado pela letra “d” (a quarta do alfabeto) precedida pelo símbolo de números. Outro motivo para a criação da representação intermediária do texto ASCII é o volume maior ocupado pelo texto em Braille. O Print Braille arruma o texto baseado na largura e no comprimento do papel, de forma que nenhuma linha seja quebrada.

A representação intermediária agora é lida e espelhada. O impacto das agulhas da impressora no conjunto papel/suporte irá provocar uma depressão que irá criar um relevo no verso do papel que está sendo utilizado. Portanto é preciso que a linha seja impressa de trás para frente: a primeira coluna do canto superior esquerdo é na verdade, a última coluna do lado direito. Outro parâmetro que pode ser ajustado pelo usuário é o número de vezes que a cabeça de impressão deverá passar por cada linha de texto. Isso se deve ao fato que diferentes impressoras impactam com força diferente no conjunto papel/suporte. Note que o autor do texto não precisa absolutamente nenhum conhecimento de Braille, pois o Print Braille cuida de todos os aspectos da conversão, da formatação para o tamanho da página e da inserção de caracteres especiais.

 

. Fonte: http://sphere.rdc.puc-rio.br/jornaldapuc/agoset96/braille.html

http://www.fapesp.br/outras23.htm

acesso em maio de 2002

http://www.puc-rio.br/jornaldapuc/agoset96/braille.html

http://www.ele.puc-rio.br/~guy/

acesso em setembro de 2002

Revista Micro Sistemas, ano XIV, n.158

http://www.aaa-puc-rio.org.br/pagina.php?id=10269

acesso em outubro de 2010