Deficientes Físicos

Sensor para Cegos

O oftalmologista Leonardo Gontijo, professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de Belo Horizonte (MG), desenvolveu alguns sensores que poderão ajudar os cegos a se locomoverem sozinhos, sem a ajuda da bengala. O aparelho, que está sendo patenteado no INPI(Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e ainda não tem um nome comercial definido, será apresentado no Congresso Brasileiro de Oftalmologia, no final do mês de agosto de 2009. Segundo Gontijo, a ideia de criar os sensores surgiu depois que ele atendeu um paciente adulto que perdeu a visão por causa das complicações do diabetes. “Ele entrou no meu consultório escorado pelos filhos e não tinha nenhuma afinidade com a bengala. Era totalmente inseguro para andar”, diz.

 

Por causa dessa experiência, Gontijo decidiu desenvolver os sensores com a ajuda de um eletrotécnico. Os aparelhos são presos em três pontos do corpo: nos joelhos, na cintura e na altura do peito. Quando houver objetos ha pelo menos 1,5 metros de distância do deficiente, os sensores vibram e a intensidade aumenta com a aproximação. A distância em relação aos objetos pode ser regulada. “Antes de usar os sensores em pacientes, fiz o teste sozinho. Vesti os sensores, espalhei várias mesas e cadeiras num salão de festas, apaguei as luzes e tentei caminhar. Em nenhum momento eu trombei nos objetos.”

Gontijo diz que o sensor poderá ser usado por todos os deficientes visuais, mas acredita que aqueles que ficaram cegos depois de velhos aceitarão melhor o equipamento. “O cego de nascença desenvolve outras habilidades e se dá muito bem com a bengala. Já aquela pessoa que fica cega na maturidade tem mais dificuldades para se adaptar”, avalia o oftalmologista. Por enquanto, não há aparelhos disponíveis para venda, pois o equipamento está em fase de patente. Ainda não há estimativa de preço nem de prazo para o lançamento.

Deficiente visual desde que nasceu, Sandra Maria de Sá Brito Maciel, 63, vice-presidente da Adeva (Associação de Deficientes Visuais e Amigos), diz que novas tecnologias para auxiliar os cegos são importantes, mas acha muito difícil que os sensores consigam substituir as bengalas. “O uso da bengala como meio de locomoção para o cego é consagrado em todo o mundo. Além disso, por R$ 50, você compra uma boa bengala e ela vai durar muito tempo. Um sensor desse tipo requer muita tecnologia e, provavelmente, poderá ser comprado apenas pelos cegos que têm condições financeiras”, avalia. Sandra discorda que os cegos adquiridos têm mais dificuldades para se adaptar ao uso da bengala. “O cego adquirido já sabe como são os ambientes e consegue se adaptar à bengala com pouco treino.”

Indefeso e com a ajuda dos filhos, o senhor, de meia idade, entrou naquele dia no consultório médico com a esperança de que a sua cegueira, resultado de uma diabete avançada, fosse enfim curada. Sem sucesso, ele ouviu do oftalmologista uma promessa: “Um dia, você não terá mais que depender dos outros para ser guiado, vou criar um equipamento para que isso se torne realidade”. Seis meses se passaram e o prometido foi cumprido. Leonardo Gontijo, oftalmologista de Belo Horizonte, criou o quirófaro – sensores que permitem cegos a largarem a bengala e se locomoverem sozinho. Como prometeu, Leonardo procurou aquele homem, que lhe serviu de inspiração, mas soube que ele havia falecido. O senhor não chegou a conhecer o que lhe deixaria mais independente e seguro, mas foi o impulso certo para a esperança de 1,2 milhão de deficientes visuais brasileiros , que poderão largar a bengala e cães guias para seguir por caminhos sem obstáculos.

“A ideia surgiu quando comprei um carro com sensores e percebi que podia ir mais além com aquela tecnologia. Mas esse projeto ainda estava adormecido e foi acionado quando aquele senhor simples e dependente dos filhos entrou no meu consultório”, conta Leonardo Gontijo, que explica que procurou um eletrotécnico para desenvolver a invenção. Ele explica que são quatro sensores que ficam espalhados pelo corpo. No protótipo uma caixa é colocada na cintura e se assemelha a um cinturão. Além de um sensor, dessa caixa, que serve como suporte para todo o equipamento, saem três fios que ligam a outros sensores: um na altura do peito, que se assemelha a um medalhão, e outros dois em cada joelho. Ao ser ligado, o aparelho oferece duas opções ao deficiente visual, que pode escolher entre a sensibilidade auditiva ou vibratória. Se optar pela primeira, quando os objetos estiverem a 1,5 metro de distância um apito será acionado. “Ou quando estiver nessa mesma distância, sentirá vibrações”, explica o médico, que lembra que a invenção tem como prioridade evitar que os deficientes visuais batam a cabeça e o tronco em objetos altos. “Isso acontece muito. A bengala, permite a eles uma identificação das coisas que estão próximas ao chão. Por isso, muitos batem a cabeça em orelhão, portas de armário e tantos outros”, destaca, acrescentando que se o cego também sofrer de deficiência auditiva poderá usar as vibrações para se guiar.

Ainda de acordo com o oftalmologista, a novidade atinge principalmente aqueles que tiveram a cegueira adquirida ao longo da vida. “Quem já nasceu cego é mais ágil e consegue se locomover com mais facilidade, por isso, não aceita abandonar a bengala. Já quem adquiriu o problema se sente perdido, inseguro e não se adapta rápido aos auxílios de locomoção. São para esses que o equipamento será essencial”, ressalta Leonardo, que tem testes como base para comprovar a afirmação. “Convidamos alguns cegos da Santa Casa de Belo Horizonte para testar o protótipo e o resultado foi muito positivo entre eles”, diz e aposta que no futuro a invenção será indispensável para quem perdeu a visão e tem dificuldades de se locomover. O fisioterapeuta Luiz Edmundo Costa, de 42 anos, foi um dos que testou o aparelho e reconhece que se trata de uma nova esperança. Apesar de ser deficiente visual desde que nasceu e, por isso, ter maior desenvoltura ao se locomover, Luiz, que diz que a bengala traz a segurança necessária para quem não enxerga, apontou vantagens e desvantagens nos sensores. “Um lado positivo é o de nos proteger dos objetos altos e medianos. Sempre batemos a cabeça em algum obstáculo, o que é perigoso. O experimento poderá ser um risco a menos”, afirma, acrescentando que, “por outro lado, se houver um nível mais alto numa calçada ou um buraco no chão, o equipamento não terá a mesma sensibilidade”. Ele confessa que, diante dos dois pontos, irá preferir usar os dois auxílios: a bengala e os sensores. De acordo com o professor, uma nova versão do equipamento já está sendo feita. E a mudança será a instalação de um sensor a laser, que será colocado na cintura do deficiente visual e será capaz de fazer leituras do chão. “Assim, quando houver buracos, a pessoa será avisada”, diz, acrescentando que os sensores do protótipo, que alertam sobre os obstáculos, são também capazes de ativar som ou vibrações quando o usuário subir degraus.

A invenção será apresentada a mais de 6 mil médicos do Brasil e do exterior durante o 35º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que ocorre na capital, entre os dias 24 a 27 de agosto de 2009. Mesmo ainda em fase de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o equipamento já chamou a atenção de uma empresa em São Paulo que se interessou em produzi-lo em escala industrial. De acordo com Leonardo Gontijo, quando chegar ao mercado, o aparelho não terá as mesmas dimensões do protótipo. “A ideia é que os sensores sejam do tamanho de um botão. Assim como o original, haverá uma caixa presa à cintura e a expectativa é que ela seja do tamanho de um pequeno celular com bateria recarregável”, explica, apontando que a intenção é que o valor do quirófaro não seja de alto custo. “Existe uma bengala a laser feita na Europa que tem sensibilidade com objetos altos, mas a unidade custa cerca de 3 mil euros. É muito caro, queremos que a invenção mineira seja acessível a todos”, compara. O próximo passo para auxiliar na locomoção dos deficientes visuais, segundo afirma Leonardo, é desenvolver um sensor auditivo para ser colocado nos óculos escuros, que tanto são usados pelos cegos. “A ideia já está em andamento. O objetivo é fechar o cerco aos objetos altos, que são sinônimo de tormento para quem tem problema de visão”, revela. Em outra invenção, Leonardo Gontijo, elaborou uma forma de cédulas e moedas serem confeccionadas com o valor em código braille, possibilitando a identificação visual tátil do real valor da nota. “A ideia surgiu quando um amigo, deficiente visual, pediu R$ 20 emprestado e percebi a dificuldade que teve em reconhecer a nota. Comecei a estudar e criei a nota com o Braille vazado. O mais importante é que, além de reconhecer o dinheiro, o sistema vai realizar a inclusão social, propiciar segurança e confiança em todas as relações monetárias perpetradas. Fiz diversas pesquisas e muitos cegos afirmaram que, com isso, poderão trabalhar até no comércio”, afirma Gontijo.

Para eles, os deficientes visuais não podem ser segregados da vida normal da coletividade, excluídos de atividades profissionais, educacionais, de entretenimento, culturais, esportivas, dentre outras tantas, lembrando que o código de Braille viabiliza a inclusão. “A ideia é boa e já registrei a patente no Brasil e mundialmente. O registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que também realizou o trabalho no plano mundial, levou mais de dois anos, mas ficou pronto acerca de 20 dias. O sistema é prático e viável e um especialista me deu suporte para viabilizar a criação”, observa. Segundo o inventor, a mudança está no Congresso Nacional para ser aprovada e ser instituída em todo o país. Afirma que as escolas de deficientes visuais estão pressionando os deputados e senadores para aprovar a ideia. O sistema é simples de ser colocado em prática e fazer a inclusão. Todo mundo atualmente vive em função do dinheiro, e estas pessoas não podem ficar reféns de aproveitadores e poderão ter uma vida completamente ativa. O especialista, que não posso falar o nome nem de que instituição, está me orientando e assegura a viabilidade da proposta. Ele afirmou que basta fazer uma adaptação no sistema, o que leva cerca de um mês. A identificação da nota será feita em Braille em alto relevo, e será vazado dos dois lados. Estamos apenas aprimorando a ideia em moedas”, afirma.

 

Fonte: http://www.multiideias.com.br/tecnoblog/?p=10493

http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u601024.shtml

acesso em julho de 2009

Mineiro cria aparelho para cego andar sem bengala, Luciane Evans, Mídia Impressa: Estado de Minas