Metalúrgia

Tinta Anti Incrustante

Uma tinta antiincrustante atóxica foi desenvolvida nos laboratórios do Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal Fluminense (UFF) por um estudante de nível médio com a orientação do doutorando em biotecnologia vegetal pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bernardo Antônio Perez da Gama. O material tem como função evitar que algas marinhas e mexilhões se fixem nos cascos de navios e prejudiquem a navegação dessas embarcações. A aplicação também pode ser feita nos cais de portos. As tintas usadas atualmente são feitas com cobre ou estanho, materiais tóxicos que podem contaminar os seres humanos pelo consumo direto dos mexilhões ou através da cadeia alimentar (pelo consumo de peixes que se alimentam das algas ou dos mexilhões, por exemplo). A pesquisa, desenvolvida por Thiago Ribeiro, de 16 anos, ganhou o primeiro lugar no concurso Cientistas do Amanhã.

 

A incrustação biológica marinha acarreta uma série de transtornos e prejuízos às atividades marítimas ou relacionadas ao mar, como a navegação, a aquacultura, a exploração de petróleo e o resfriamento de usinas termonucleares. Seu aparecimento provoca danos nessas estruturas submersas e causa prejuízos econômicos, porque eleva o consumo de combustível no caso das embarcações. A incrustação torna irregular e rugosa a superfície dos cascos, aumentando o arrasto e reduzindo a velocidade. Num dos maiores navios do mundo, o Queen Elizabeth, os gastos com combustível durante uma viagem podem chegar a US$ 17 milhões. Mas com a bioincrustação, o consumo de combustível pode aumentar em até 1% o que significa mais de US170 mil. Como forma de combater a incrustação, os cascos de navios e outras estruturas são pintados com tintas antiincrustantes tendo como biocida TBT (tributil estanho). No entanto, o TBT é um poluente que causa severos danos à fauna e flora marinhas, sendo alvo de restrições em inúmeros países.

Segundo o biólogo Renato Crespo, desde que as tintas contendo TBT começaram a ser utilizadas em larga escala, no início da década de 1970, pensou-se que essa seria a solução para o antigo e oneroso problema da bioincrustação. “No entanto, nessa época surgiram evidências de efeitos prejudiciais em muitas outras formas de vida marinha além dos organismos incrustantes, incluindo as espécies economicamente importantes como as ostras. O tributil – estanho causa mudança de sexo nos moluscos, um fenômeno denominado imposex, que altera a proporção desses organismos no meio ambiente”.

A nova tinta é produzida a partir de um composto natural, orgânico e halogenado (contendo halogênios como o cloro e o bromo) que foi isolado de algas vermelhas do litoral brasileiro. Essas algas produzem uma substância biodegradável que evita a incrustação de outros seres nelas mesmas sem matar ou envenenar os mexilhões. Ao contrário das usadas atualmente, a tinta desenvolvida por Thiago não evita a fixação das algas por intoxicação, mas por repelência. Por ainda estar em fase de patenteamento, o nome da substância ativa não foi divulgado. A tinta não afeta o meio ambiente e se enquadra nas definições da Marine Pollution (Marpol), regulamentação internacional da Organização Marítima Internacional, da qual o Brasil é signatário, que cuida das questões ligadas à poluição marítima. Ela determina que, até o ano de 2003, as tintas antiincrustantes que contenham o TBT (tributil estanho) não estejam mais no mercado.

Os testes do novo produto foram feitos em um campo de prova da Marinha, na cidade de Arraial do Cabo (RJ). Três placas de metal foram colocadas dentro do mar, uma sem nenhum tratamento, outra com tinta convencional e a terceira com a nova tinta. Nas placas, foram fixados os mexilhões da espécie Perna perna (conhecidos popularmente como sururu). A placa em que havia sido aplicado o produto natural apresentou o melhor resultado. Segundo Bernardo da Gama, orientador do trabalho, os testes continuarão por algum tempo. “Para ser comercializada, a substância não poderá ser extraída diretamente das algas, devendo ser sintetizada em laboratório. Já imaginou a quantidade de algas necessária para pintar um único navio de grande porte?”

Interessado em ciência desde cedo, Tiago tornou-se membro do Clube de Pesquisa Científica Argus, destinado a jovens e que promove atividades científicas, humanas e culturais. Neste clube, Tiago teve a oportunidade de ter contato com pessoas de mesmo interesse e com cientistas de universidades que trabalham na área de biologia marinha e outras. No final do ano de 1999, ele começou uma nova etapa almejando o 43o. Concurso Cientistas de Amanhã que aconteceria no ano de 2000 em Brasília, DF, quando então, começou a trabalhar no projeto sobre tintas antiincrustantes naturais. Como prêmio Tiago e sua mãe receberam uma viagem a Paris, França.

Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n148.htm

http://galileu.globo.com/edic/111/rep_clubes.htm

Acesso em janeiro de 2002

http://www.cientistasdeamanha.net/resvenc43.htm

http://www.cientistasdeamanha.net/quem2000.htm

Acesso em outubro de 2002

Agradeço ao inventor Thiago Ribeiro (thisilrib@bol.com.br) pelo envio de sua foto em outubro de 2002 para composição deste texto

Revista FAPERJ Notícias, janeiro de 2003, página 10.