Mecânica

Viola de Cocho

A palavra cocho, para o homem do campo, identifica uma tora de madeira escavada, formando uma espécie de recipiente. O cocho é muito utilizado para se colocar sal para o gado, nas pastagens das fazendas. A viola de cocho, encontrada no pantanal do Mato Grosso, recebe este nome porque é confeccionada em um tronco de madeira inteiriço, esculpido no formato de uma viola e escavado na parte que corresponde à caixa de ressonância. Nesse “cocho” é afixado um tampo e as partes que caracterizam o instrumento, como o cavalete, o espelho, o rastilho e as cravelhas. Algumas violas possuem um pequeno furo circular no tampo, outras não. A viola sem furo é coisa recente. Um violeiro justificava que a viola com furo dava muito trabalho, porque sempre entravam, por este furo, aranhas ou outros bichos, prejudicando o som do instrumento. Já os violeiros antigos preferem-na com o furo, pois, no dizer de um deles, o furo é prá voiz ficá mais sorta, sem o furo a zoada fica presa.

Esse é um instrumento origem asiática que abrasileirou-se na madeira, nas cordas e no jeito de tocar. A viola surgiu e só existe em um único lugar do mundo: em Mato Grosso. Os cuiabanos têm um jeito especial de pronunciar o ch e o x. Eles costumam colocar um t antes. Peixe, por exemplo, é petxe. Então, é viola de cotcho, o instrumento que deu vida aos ritmos pantaneiros: o cururu e o siriri. Praticamente desconhecida no Brasil, a viola de cocho já muito aplaudida mundo afora. A convite da ONU, num projeto sobre as diferentes músicas do mundo, o violeiro e pesquisador Roberto Corrêa fez uma série de concertos internacionais com este estranho mas admirável instrumento. 

O siriri é um dos folguedos mais populares e antigos do Estado, o siriri é dançado por homens, mulheres e crianças. Possui uma coreografia em roda ou fileiras formada por pares que se movimentam ao som da viola de cocho, mocho e ganzá. A assim como o siriri, o cururu é uma das mais fortes expressões culturais da nossa Gente. Executado especialmente por homens, que dançam e cantam em louvor aos santos de Devoção, citando passagens da Bíblia, saudando pessoas da comunidade ou fazendo referência aos acontecimentos políticos. 

Este instrumento sempre se apresenta com cinco ordens de cordas simples; bem antigamente, com quatro simples e um par de cordas. São várias as madeiras utilizadas: para o corpo do instrumento, a Ximbuva e o Sarã; para o tampo, raiz de Figueira branca; e para as demais peças, o Cedro. As violas armam-se com quatro cordas de tripa e uma revestida de metal. Atualmente, as cordas de tripa estão sendo substituídas por linhas de pescar – segundo os violeiros, bem inferiores às de tripa -, devido à proibição de caça na região do pantanal. A viola de cocho é um instrumento bem primitivo, não se sabendo, ao certo, sua origem. Alguns estudiosos defendem a tese de ela derivar-se diretamente do alaúde árabe. O número de trastos ou pontos varia entre dois ou três. Quando a viola possui três trastos, o intervalo ente eles é de semitom; quando possui dois trastos, o primeiro é de tom e o segundo de semitom. Os trastos são feitos de barbantes revestidos com cera de abelha para se fixarem melhor. 

A paieta, geralmente, faz um ângulo bem acentuado com o corpo do instrumento, e possui cinco ou seis furos. Este instrumento apresenta sempre cinco ordens de cor das, com as cinco cordas singelas, ou com quatro singelas mais um par. Neste caso, a terceira ordem consistiria de um par de cordas afinado em oitava. Também é encontrada viola com seis furos na paieta, mas com apenas cinco cravelhas. As madeiras utilizadas na sua construção são várias: para o corpo do instrumento as preferidas são, a Ximbuva e o Sarã; para o tampo, Figueira branca, e para as demais peças, o Cedro. A maioria das violas de cocho se armam com cinco cordas singelas, quatro de tripa e uma de aço. Atualmente as cordas de tripa estão sendo substituídas por linhas de pesca, devido a proibição de caça na região. Estas, de acordo com os violeiros, são bem inferiores às de tripa. A corda de aço tem o nome de “canotio”, e tem, aproximadamente, o mesmo calibre da quarta corda do violão. Os nomes das cordas são os seguintes: prima, segunda ou contra, do meio ou terceira, canotio e corda de cima. A preparação da tripa, para a confecção das cordas, é muito rudimentar, para explicar o procedimento adotado, transcrevemos, abaixo, os depoimentos de alguns violeiros, quando indagados sobre esse assunto. – “Ah! isto é fácil, o sinhô mata o animá, tira a tripa, e limpa bem por fora, vira ela e limpa bem por dentro, bem limpadinho. 0 sinhô marra um fio dum lado e dôtro e troce bem trucido. Estira o fio duma árvore a otra, põe um pesinho e pronto. Ele vai estirano… estirano, vai secano. Ah! fica que… uma beieza!!!” — Sr. Gregório José da Silva, 74 anos, cururueiro – Poconé-MT, em 1983. – “Tira toda a tripa do Ouriço e começa a limpá com a unha, tira a carne de cima ficano a pura tripa. Depois vira ela, prá limpá por dentro e sair o limbo. Quando sai o limbo fica bem alvinho!, troce a tripa bem trucida e estira ela. Deixa secá e pronto. 

A colagem das partes é feita usando o sumo da batata de Sumaré (espécie de orquídea selvagem) ou um grude feito pelo cozimento de “pocas” de piranhas (bexiga natatória, pequena tripa cheia de ar). A viola de cocho é usada para o Cururu e o Siriri, funções bem populares em Mato Grosso, assim como para o Rasqueado. Existem duas afinações, uma se derivando da outra, a “canotio solto” e a “canotio preso”. São vários os animais cujas, tripas se prestam à confecção de cordas. Os preferidos são: o Ouriço-Cacheiro (Porco-Espinho), o Bugio (macaco de grande porte), a Irara e o Macaco-Prego. A tripa de gato, apesar de dar boa corda, não é usada pelos violeiros pois, segundo eles, surgem muitas brigas entre os cururueiros. A do Macaco-Prego é muito usada, mas somente na época em que ele não está comendo formigas, pois, no dizer dos violeiros, as tripas ficam cheias de nós, provenientes das picadas destas, quando engolidas vivas. 

Com a chegada da televisão e do rádio na região, por volta dos anos 50, a viola de cocho começou a perder a popularidade entre a comunidade local, que a produzia de forma artesanal. Esse processo quase levou à extinção do instrumento. Mas nos últimos 15 anos, a viola de cocho virou essa triste página e voltou a ser um dos instrumentos mais populares do Mato Grosso. Parte dessa reviravolta aconteceu por conta do trabalho de Abel Santos Anjos Filhos, músico e professor da Universidade Federal do Mato Grosso. Abel esteve em Brasília para lançar o livro Uma Melodia Histórica, no qual explora as raízes da viola de cocho e conta a história do instrumento desde antes da chegada ao Brasil. 

O presidente Lula e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, tombaram oficialmente em dezembro de 2004, em Salvador, bens culturais brasileiros como patrimônio histórico do país. Além do acarajé e do terreiro de Alaketo, do século 10.º, foi tombada também a viola-de-cocho mato-grossense, instrumento artesanal característico do Centro-Oeste do Brasil. A viola é feita numa tora de madeira inteiriça, do mesmo tipo que é utilizada para se fazer o cocho (recipiente rudimentar para alimentar animais em todo o país). Segundo informações da Assessoria de Comunicação do Minc, a notícia mais antiga sobre a viola-de-cocho é do fim do século 19, dada pelo cientista alemão Karl von den Steinen, que descreveu as festas religiosas de Cuiabá onde se cantava o cururu. Suas origens são pouco claras, e há quem postule que tenha vindo de São Paulo, acompanhando a expansão bandeirante para a região Centro-Oeste brasileira. É usada em manifestações populares da região, como o boi a serra, dança de São Gonçalo, folião, ladainha, rasqueado limpa banco (ou rasqueado cuiabano), e em festas religiosas tradicionais realizadas por devotos associados em irmandades. 

Fonte: 
http://www.robertocorrea.com.br/viola_cocho.htm
 
http://www.cuiaba.mt.gov.br/smc/dancas.htm
 
http://www.robertocorrea.com.br/viola_cocho.htm
 
http://www.unb.br/acs/acsweb/noticiasdaunb/viola.htm
 
http://www.kidlink.org/portuguese/waila/folclcuiaba.html
 
http://www.caboclovioleiro.hpg.ig.com.br/imaviola/coxo.htm
 
http://www.geocities.com/prbraga/violacocho.htm
 
acesso em fevereiro de 2003
 
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=23704
 
aceso em dezembro de 2004
 
Pesquisa de Roberto Corrêa Extraído do livreto do CD “Uróboro” (1994)
 
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